17 de novembro de 2008

VIAGEM PORTENTOSA

 A Ciência não é mais do que o conhecimento adequado e comprovado. Mas as adequações e comprovações são as que o tempo histórico permite. Desta maneira, a Ciência é a verdade de cada circunstância epocal. Que imagem adequada e comprovada tiveram os Gregos anteriores e posteriores a Péricles dos seus iguais? Eles sabiam-se a partilhar um espaço onde se reflectiam memórias de heróis e de deuses. Os homens gregos mais comuns, persuadidos por narrativas que vinham do fundo dos tempos – e  que Homero haveria de unificar – supunham que a realidade do mundo consciente era partilhada por deuses, potências antropomórficas com virtudes e defeitos similares aos da mais vã criatura, por heróis, no meio termo entre o divino e o puramente humano, e por seres muito comuns, açoitados pela precaridade e pela contingência. Mas acima dos homens, para lá dos heróis, mais alto que Zeus, Deus dos deuses, sobrevoava a Moira, o Destino inflexível, implacável, determinante, ao qual todos haveriam de vergar-se, uma vez que nenhum o poderia torcer, desviar ou sofismar. Era a Moira um deus? Não era. Mas hoje diríamos que era a face da Necessidade, do que “teria de ser”, ali, na borda do Mediterrâneo, ou na mais desvairada lonjura bárbara. Por lá identificaram esses homens os elementos constitutivos da realidade, desde a água de Tales ao ar de Anaxímenes, desde a matéria total de Xenófanes aos números sagrados de Pitágoras. Não teria sido por acaso que a Moira, esse princípio sumamente determinante, irrenunciável, pairou acima de tudo e de todos na espantosa aventura do conhecimento, então iniciada. É que ela ganhou o nome de Providência na Idade Média, de Virtus no Renascimento e de Causalidade na época Contemporânea. Como negar a adequação e a comprovação deste fermento espiritual? E é então que concluímos, através da dialéctica de uma história feita saber, que a descida do homem na lua, realizada ontem, se iniciara nos braços da Moira grega, que ainda anteontem velejava nas ondas opalinas da Hélade.

 

 

1 comentário:

Anónimo disse...

"O destino do homem é o conhecimento"
Carlos Fiolhais

Saber cada vez mais, dia após dia,
ilimitadamente, é de certeza
o destino supremo, que o inebria,
de todo o ser humano que se preza.

Ir aumentando os seus conhecimentos
pelos caminhos árduos da ciência,
compartilhando os seus descobrimentos,
que outro labor mais nobre há na existência?

Dos telescópios aos laboratórios,
da congeminação à conjectura,
o sábio faz da vida uma aventura.

Nos seus elaborados relatórios,
vai da ignorância levantando os véus
até chegar à concepção de Deus!

João de Castro Nunes