13 de maio de 2009

CARTA A UM AMIGO



Meu Querido Professor João de Castro Nunes:

 A história conta-se em meia dúzia de linhas. Neste meu blog, que tem vindo a ser mais procurado do que nunca a partir do momento em que iniciei o “Memorial Republicano”, cometi um lapso, errando uma data por distracção. Uma leitora, atentíssima à minha produção, zeladora do meu bom nome profissional e entendida em datas, veio repor a correcta cronologia. E eu, reconhecendo o erro, aceitei e emendei. O meu Amigo, com o especial carinho que me tem demonstrado, veio dizer que a minha atitude revelava superioridade.

Depois disto, aconteceu uma deriva tragicómica. Um anónimo vem à liça derrancar-me. Diz que eu moro nas Alpenduradas e sou incompetente; alega que devo aprender com dois competentes Colegas meus, subitamente promovidos a santos. Insulta o meu sempre Respeitado Professor e chama-lhe goiesco, não sei se como homenagem a Goya, que ambos apreciamos, se como reverência a Góis, terra linda, álacre, risonha e campesina. E chama a terreiro o também meu muito querido Professor Alves de Fraga, completamente alheio ao diferendo vertente, alegando que só ele faltava ao hossana para que eu subisse ao Sétimo Céu da imerecida Fama, quando, verdadeiramente, por ter falhado uma data, deveria ser defenestrado para o Sétimo Círculo do Inferno de Dante (se é que ele existe).

Convenho e declaro, com toda a pompa e solenidade, que eu mereci toda a algazarra do anónimo foliculário: errar uma data em dois anos, mesmo por distracção, é uma hórrida, tenebrosa e insustentável coisa, para mais estando eu antecipadamente convicto de que esse campeão da exactitude, que tão rudemente imaginou interpelar-me, nunca errou coisa nenhuma, desde o troco ao padeiro ao preenchimento dos campos do IRS.

Mas quem não merecia nenhuma das insólitas e descompostas diatribes era o meu estimado, querido e respeitado Professor. Por isso aqui estou eu para lhe pedir desculpa, não em nome do homúnculo que o visou insultuosamente, mas em nome da Decência, inerente à Natureza Humana saudável e limpa, que ambos compartimos.

Por mim, estou pronto a confessar, de baraço ao pescoço, os meus perversos e hórridos crimes e as minhas imperdoáveis inépcias: é verdade que moro nas Alpenduradas; é verdade que corrigi em dois anos a data da Revolução de Setembro; é verdade que sou o administrador de um blog que vai a caminho das dez mil consultas; é verdade que já escrevi uma dezena de livros e que em alguns deles, seguramente, ocorrem imprecisões, que não soube evitar, ou até erradas interpretações, que não logrei suprimir; é verdade que o mesmo irá acontecer, a espaços, nos meus livros futuros; é verdade que fundei, com o activo concurso de antigos Alunos, uma associação cultural à qual se vincularam uma centena e meia de consócios e que tal organização dá pelo nome de ALTERNATIVA; é verdade que tenho Colegas que primam pela competência, senão mesmo pelo halo santificador; é verdade que João de Castro Nunes e Alves de Fraga são dois queridos Amigos, por mim muito apreciados, um pela excelência da Poesia que faz, o outro pela probidade da investigação histórica que produz; é verdade que, além destes, eu me vejo hoje cercado por largas dezenas de solidariedades e de amizades sólidas; é verdade que sou feliz, que estou satisfeito com o meu trabalho e com a minha imagem e me sei portador de muitas insuficiências, reconhecendo embora que também me assistem umas poucas de virtudes. E, a concluir, é sobretudo verdade que, dando o meu melhor em tudo o que ensino, em tudo o que escrevo, em tudo o que organizo, faço todas estas coisas com a perfeita consciência das minhas limitações.

Digo-lhe isto a si, porque lhe quero muito bem e porque um Homem que viveu como o Senhor, produzindo centenas de brilhantes versos, tendo ensinado várias gerações de estudantes e tendo a estatura humana que possui, merece a solidariedade activa deste réprobo.

Quanto ao mais, silêncio. Por mim, sempre evitei responder a almas latrinárias. Evito que os infinitamente pequenos possam promover-se com a minha réplica. E assim viverei, para o resto dos meus dias, de bem comigo e de bem com aqueles que venero, respeito e amo.

 Um abraço, meu querido Professor Castro Nunes. Um grande e fiel abraço do

 AMADEU CARVALHO HOMEM  

2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...

Caros Amigos,
Razões várias levaram-me a não ter acompanhado o deplorável comentário que um anónimo lançou neste blog há alguns dias atrás.
É, deveras, lamentável que haja alguém que se esconda no anonimato para atacar o Exmo. Professor Castro Nunes e o Professor Amadeu Carvalho Homem. Por mim, como para além da minha actividade docente fiz longa carreira militar e estou habituado a que a lama pestilenta dos caminhos intransitáveis emporcalhe a sola das minhas botas, sou muito superior à vileza do ataque cobarde de um qualquer anónimo. Custa-me que o Professor Castro Nunes — uma alma de poeta, sensível e nobre — tenha de sofrer o enxovalho de um cretino que esconde o rosto receoso do confronto leal. E custa-me que o meu Amigo Professor Carvalho Homem, por causa de um lapso — pois nem erro se pode considerar a troca de ano de um acontecimento — veja estampado no seu douto blog uma série de baboseiras que um mesquinho invejoso, sem categoria e tremelicando de medo, aqui quis deixar em atitude grosseira e soez. Com o Professor Carvalho Homem — Homem e Mestre de coragem e verticalidade invejáveis — me solidarizo, subscrevendo as desculpas de que esta carta é portadora para o Professor Castro Nunes. E nada mais digo.

Anónimo disse...

Viva napalm.Sempre veio.Tadinho do amanuense da História.Tantos livros, tantos. Tanta Alterne Ativa.Esqueceu-se de falar nos penduricalhos com que se adornou em foto encomendada.
Quanto ao outro, filho de quem? E o D.Pedro sabe? Fartei-me de andar pela História da Literatura e não encontrei o travesti da Florbela em tom menor.Só na Sociedade do Elogio Mútuo do sr.administrador (faltava-lhe esta prebenda)de blog o podemos achar.Há arquinhos e balões nas Alpenduradas para as fogueiras de S.João ao som do realejo do minhoto rimador.

A. Araújo