25 de junho de 2012

O MEDO

O maior dos medos que podemos experimentar é o medo pelo desconhecido. Somos animais programados e o nosso maior arrimo é o da regularidade das coisas conhecidas. Tudo o que fica para lá (ou para cá ?) do desconhecido nos inibe e atemoriza. Pelo contrário, o Mundo não conhece o medo. Assiste, imperturbável, a todas as hecatombes sem pestanejar. Quando digo isto, eu estou a cometer uma espécie de antropomorfismo. É que o Mundo não assiste, não pestaneja, nem sequer regista. O Mundo “é”, limita-se a “ser” , na sua passividade imensa. Quando digo que o maior dos medos humanos é o do desconhecido, eu poderia dizer, com maior propriedade, que do que temos mais medo é de nós-mesmos. Melhor dizendo, do que ignoramos de nós mesmos. É bom reparar que tudo o que podemos conceber de mais temeroso é tudo o que imaginariamente nós sabemos que poderíamos cometer. Assim sendo, o nosso medo consiste apenas na dúvida que nos assalta acerca do que temos como impossível de por nós ser cometido. Seremos nós capazes de cegar voluntariamente um semelhante? Seremos nós capazes de matar a sangue frio um desconhecido? Seremos nós capazes de possuir sexualmente uma criança? Seremos nós capazes de matar um semelhante saudável para lhe vender os órgãos? Não dou a resposta por caridade para comigo e não por caridade para com a Humanidade. O que nos causa medo são as virtualidades do que somos ou do que imaginamos poder ser. O medo é, desta maneira, o limite que nos protege de nós próprios. O mundo, como não estudou Ética, nem a pratica, limita-se a “ser”, impávido, perante o espectáculo de nós-mesmos. Por isso é que não há a menor razão para temer a morte. É o acto pelo qual nós deixamos de julgar, para nos convertermos num imperceptível grão de mundo.

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