21 de agosto de 2012

SINGULARIDADE E NECESSIDADE DA CULTURA

É de supor que a exterioridade fale sempre mais alto do que a interioridade. A exterioridade da Civilização comanda imperial e imperativamente a realização da Cultura. Isto é assim porque o bem-estar material prevalecerá sempre, em termos de médias demográficas, sobre os tentames de realização espiritual. Mas, pese embora a certos pregoeiros do economicism o e da eficácia técnica, esta, a realização espiritual, não deriva necessariamente do bem estar material. A singularidade da Cultura está em que a validação última da bondade material depende estritamente de juízos valorativos, sendo estes o resultado necessário do trabalho teórico. O mero utilitarismo pode falar-nos dos benefícios que a construção de certa ponte trouxe às populações das duas margens. Mas só o juízo de gosto nos poderá assegurar da sua Beleza. A estrita consideração pragmática encarará o mundo como o território da mutualidade de serviços. Mas só a avaliação ética nos dirá das posições relativas que comandam a justiça ou a injustiça das formações sociais. O reino das aparências julgará complacentemente a esmola dada a um pobre. Mas só o inquérito em profundidade sobre a natureza das motivações estabelecerá a distinção entre o que foi a dádiva do temor ou a oferta da solidariedade. A tríade do Belo, do Bom e do Justo atravessou, sem solução de continuidade, o arco do tempo que riscou o viver agónico da Humanidade desde esse redivivo século de Péricles até este miserando século das troikas. E é por isso, impulsionados pelo eco de vozes resgatadoras e combativas, que hoje podemos e devemos dizer que as Instituições de cultura só podem ser apresentadas como redutos de resistência.

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