Parto agora (como só sabe partir quem
Não chegou ao destino demandado).
Parto agora à procura de mim.
Ah, vida minha, bordado carmesim
Que mãos ignotas pontearam deste Fado!
Perdido como Ulisses na aresta das vagas,
Qual Moisés sem Sinai e sem tábuas da Lei
Assim vagante eu fui, vagando em mim
Como se inútil fosse quanto fiz e dei …
Há quem parta com outro norte, outra maré,
Há quem desfralde pendão duma outra Fé,
Há quem se banhe noutras quentes águas,
Sem o limo da Dor e o moliço das mágoas.
Partir, partir agora e já (como quem finge
Chegadas triunfais a praias de nativos,
Simulando vivências de tempos redivivos);
Partir sem o remorso do que ficou p’ra trás
(Gentes e portas, saudades e torrentes,
Odores de sal e mel em potes bem recentes,
Arvoredos imponentes de folha bem vivaz).
Partir sem o costumado receio de quem sai,
Sem o celebrado alvoroço de quem vem
E sem o sentimento de quem julga ter
Uma qualquer missão ou um qualquer Dever.
Parto, sonâmbulo e vago, porque sim,
Sem contar encontrar nas raízes de mim
Móbil e jeito, texto e pretexto.
Eu sou, sem mais razões, tal qual assim.
12 de dezembro de 2006
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