Mas onde bate, onde bate o coração da terra?
Onde devo procurar o olhar, a pura face
Que nos dê o segredo, o sulco e o enlace
Do que bate e rebate no coração da terra?
Já um dia vivi como se fosse pedra
Num caminho qualquer à beira mar
E disso não tirei mais que o arfar
Da vaga que é aquém e que não medra.
Já um dia quis ser frondoso castanheiro
No rocio cinzento da manhã nublada
E disso não colhi mais do que um nada
Por não me terem feito arder luzeiro.
Nascido homem, quis fazer do destino
Um peregrinar constante e descontente
Como se a minha dúvida impotente
Me condenasse sempre a ser menino.
Quando um dia cessar em mim o sol da vida
Sofredor penitente da sorte de quem erra
Irei saber onde bate o coração da terra
E darei por finda, só então, a minha lida.
1 comentário:
DESTINOS... OUTROS
Não é preciso ser-se castanheiro,
cuja raiz no fundo chão se enterra,
para sentir o coração da terra
pulsando do seu jeito rotineiro.
Não é preciso ser-se onda do mar
nem pedra bruta, que não sente nada,
para ter uma ideia aproximada
de como a terra vive a respirar.
Eu sinto o seu pulsar dentro de mim,
sinto o seu coração bater no meu,
ambos devendo ter o mesmo fim.
Só que outro deve ser nosso destino:
enquanto o meu vai terminar no céu,
o dela... pó será, como imagino!
João de Castro Nunes
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