21 de novembro de 2008

CORAÇÃO DA TERRA



Mas onde bate, onde bate o coração da terra?

Onde devo procurar o olhar, a pura face

Que nos dê o segredo, o sulco e o enlace

Do que bate e rebate no coração da terra?

 

Já um dia vivi como se fosse pedra

Num caminho qualquer à beira mar

E disso não tirei mais que o arfar

Da vaga que é aquém e que não medra.

 

Já um dia quis ser frondoso castanheiro

No rocio cinzento da manhã nublada

E disso não colhi mais do que um nada

Por não me terem feito arder luzeiro.

 

Nascido homem, quis fazer do destino

Um peregrinar constante e descontente

Como se a minha dúvida impotente

Me condenasse sempre a ser menino.

 

Quando um dia cessar em mim o sol da vida

Sofredor penitente da sorte de quem erra

Irei saber onde bate o coração da terra

E darei por finda, só então, a minha lida.

1 comentário:

Anónimo disse...

DESTINOS... OUTROS

Não é preciso ser-se castanheiro,
cuja raiz no fundo chão se enterra,
para sentir o coração da terra
pulsando do seu jeito rotineiro.

Não é preciso ser-se onda do mar
nem pedra bruta, que não sente nada,
para ter uma ideia aproximada
de como a terra vive a respirar.

Eu sinto o seu pulsar dentro de mim,
sinto o seu coração bater no meu,
ambos devendo ter o mesmo fim.

Só que outro deve ser nosso destino:
enquanto o meu vai terminar no céu,
o dela... pó será, como imagino!

João de Castro Nunes