Uma galeria da "mina"
Foram muito generosas as suas observações sobre o meu texto. Asseguro-lhe que foi penosa a sua produção, porque é sempre muito difícil traçar uma evolução daquele calibre em páginas contadinhas. Não concordo quando me diz que jamais será capaz de fazer coisa semelhante. E isto por duas razões: em primeiro lugar, apesar do esforço, eu não penso que a análise esteja tão certeira quanto isso. Há que relativizar sempre (que coisas importantes me escaparam? que coisas menores foram enfatizadas? que coisas "entre-o-cá-e-o-lá" foram explanadas sem a devida leitura do contexto? ). A segunda razão da minha discordância está nisto: eu levei toda uma carreira para fazer o que hoje faço (e, entenda-se, o que hoje faço não é nenhuma maravilha); são decénios de investigação acumulada, e isto é assim porque eu nunca deixei de estudar e de me considerar - com TOTAL SINCERIDADE - um ignorante. Aliás, é o que nós todos somos perante tudo: uns ignorantes sem remédio. Esta ponderação tem-me evitado fazer a figura triste de me sentir envaidecido ou importante. Mas tem-me mobilizado para um projecto de vida: se és ignorante, vê lá se estudas um bocado mais para seres MENOS IGNORANTE, PORQUE SÁBIO É QUE TU NUNCA SERÁS. Ao adoptar esta directriz, eu senti-me pacificado comigo mesmo e com o mundo. Daí resulta que se um inimigo ou "amigo menor" me quiser atacar, alegando que sou uma completa nulidade, eu até acabarei por concordar com ele. Não pelas razões dele, mas pelas minhas! E isto dá-me a serenidade indispensável para continuar calmamente a investigar.
Tenho procurado transmitir esta postura aos meus discípulos, sobretudo aos que estão na calha do ensino superior. Mais do que o que lhes ensinei, é importante esta mensagem de humildade profunda e muito autêntica perante o Saber. É que este é a mina inesgotável que nós trabalhamos toda a nossa vida, para trazer à superfície (se conseguirmos e quando o conseguimos) uma pepita de ouro de um ou dois gramas. O que lá fica, nas profundidades e longe do nosso alcance, são toneladas. Eu acredito em si, na medida em que antevejo que também a minha Amiga poderá vir a trazer à tona um ou dois gramas dessa incomensurável mina de ouro. Isto acontecerá ... se: SE continuar a trabalhar; SE não vier a deslumbrar-se com o seu próprio saber; SE for permanentemente humilde perante o Conhecimento; SE se mantiver indiferente perante a lisonja e perante o insulto de terceiros; SE tiver a serenidade do Filósofo ("amigo do saber", mas não "sábio", como nos declara a etimologia). Ora, eu pressinto que será capaz de tudo isto.
Obrigado pelas suas palavras, que são sempre importantes, porque me trouxeram estímulos para dar continuidade ao meu trabalho.
Vou ler os seus textos e depois lhe transmitirei as minhas opiniões.
Um grande 2010, para si e para todos os seus Familiares.
Seu Amigo (e Colega) verdadeiro,
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