Foi Aristóteles que afirmou que o riso era especificamente humano. Não é completamente pacífico que assim seja. A realidade do “psiquismo animal” é um domínio tão pouco explorado que tudo o que neste domínio se possa dizer é aleatório. A bibliografia incidente sobre os mecanismos do acto de rir é inesgotável e reivindicada por alguns dos mais famosos pensadores da Humanidade. Bergson, Darwin, Freud, Victor Hugo, Baudelaire e Kierkegaard reflectiram e escreveram sobre o riso. Falemos hoje sobre o filósofo do intuicionismo. Foi Bergson quem interpretou o riso como a reacção decorrente da perturbação das exigência plástica de adaptação à vida. O acto de viver impõe a todos os seres vivos uma pertinência adaptativa de mecanismos de resposta que definem a normalidade dos comportamentos. Assim, cada um de nós ri-se quando percepciona a substituição, nas diversas situações concretas, das respostas adequadas e previsíveis por respostas mecânicas e rígidas. Charlot faz-nos rir, no célebre episódio dos Tempos Modernos, quando abandona a máquina industrial que o obrigou a repetir o gesto eterno de apertar parafusos, mantendo a gesticulação profissional, uniforme e ridícula, depois de a deixar. O ridículo, para Bergson, decorreria precisamente da mecanização das respostas do Eu perante as imposições de plasticidade adaptativa que o Mundo supõe e impõe. A doutrina de Bergson exprime esse incomparável “esprit de finesse” que a sua filosofia tão admiravelmente revela. E comprova-nos, à saciedade, a suspeita que nos assaltou quando começàmos a fazer leituras mais nutridas sobre este admirável tema : a suspeita de ser o riso uma coisa muito séria.
21 de dezembro de 2006
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2 comentários:
É. O riso é uma coisa muito séria. Mas também é importante acrescentar que se deve praticar o mais possível, pois até faz bem à saúde não só mental, mas também física.
E isto é muito sério!
a abertura do campo historiografico com novos temas nos possibilita pensar o riso como histórico. compreender que o riso é saúde, vida e poder é um valor de nossa época. a sociedade laica construiu o riso como espaço de sociabilidade e diferenças sociais. Backtin destaca essa relação na sua busca de quebra da frinteira entre elite e camada popular. Riso é coisa séria, concordo com o colega.
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