25 de dezembro de 2006

SOBRE OS SISTEMAS POLÍTICOS

A fundamentação dos sistemas políticos, ou seja, a apresentação das razões que concorrem em abono de uma qualquer organização de sociedade e, paralelamente, em desabono de todas as demais, tem sido arquitectada a partir do mais matizado leque de considerações. Cruzam-se, em tais apologias, muitos e divergentes discursos justificativos, uns apelando à Ética, outros ao Pragmatismo, outros ainda aos critérios de eficácia produtiva, outros até (embora com menor frequência) a uma pretensa “selecção natural” das colectividades. Em nosso entender, tem-se apelado pouco para a consideração filosófica sobre a verdade ou sobre o modo de ser, essencial e íntimo, da chamada Natureza Humana. Somos nós, seres viventes, bípedes, mamíferos e racionais, portadores de uma ínsita configuração, somática e anímica, que nos permeabiliza à prática do altruísmo? É este o nosso estatuto essencial? Se assim for, tornar-se-ão viáveis os sistemas que apelam para a filantropia, para a solidariedade, para a confraternidade universal, para o sacrifício da imediata vantagem própria a favor da mediata edificação do Bem Comum. Somos nós, pelo contrário, na multiplicidade das nossas respostas e das nossas atitudes, a emanação inexorável de um egoísmo auto-defensivo? Sendo este o caso, justificar-se-ão todos os sistemas que considerem as sociedades organizadas como as arenas de luta da diversidade das reivindicações individualistas. No primeiro caso, o Estado terá de se preocupar com a erradicação da ditadura sociocrática, abrindo respiradouros para o florescimento das criatividades individuais. No segundo caso, o Estado deverá opor-se à abusiva hegemonia dos valores de personalidade sobre os valores do todo social, corrigindo o pendor das “tiranias narcísicas” pela imposição complementar de uma tábua de direitos gerais. Se a teorização política substituísse a lógica da manipulação das paixões pela reflexão sobre a verdade mais funda do fenómeno humano, estamos persuadidos que estaria aberto o caminho para uma mais serena demanda do Futuro.



2 comentários:

Luís Alves de Fraga disse...
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Luís Alves de Fraga disse...

Não tenhamos dúvidas que a interdisciplinaridade é imprescindível ao entendimento da Ciência.
Vem isto a propósito do facto de, tendo sido uma das minhas formações intelectuais, a Politologia eu nunca ter equacionado os sistemas políticos segundo uma perspectiva «humanista» ou de tendência «essencial» tal como aqui é apresentada. Contudo, porque, também, faz parte do meu universo cultural a Estratégia, arriscava-me a acrescentar à análise do meu Amigo, uma outra vertente: a do conflito. Assim, se é certo que o Homem é um ser eminentemente social, é, igualmente, um ente conflitual ou, se se preferir, conflituoso. Deste modo, quer-me parecer que se sobrepondo às duas visões extremas apresentadas pelo Autor, surge a conflitualidade como forma de se poder explicar o relacionamento social e, acima de tudo, político, pois, deste modo, os sistemas políticos terão, também, existência para pôr cobro o conflito interno das sociedades que os suportam, mesmo que à custa de um conflito com o exterior.
Desculpe-me a conjectura, mas não resisti à complementaridade de argumentos e de leituras do mesmo fenómeno.