Às vezes, julgo-me transportado ao ventre da Natureza e imagino-me pertença da sua verdade essencial. Não vou até ela cheio de orgulho em mim, nem sequer dou como certo que nela desempenhe um papel fundamental. Pelo contrário, tenho o pressentimento de ter jorrado a partir dela como coisa muito humilde, como uma espécie de resultado secundário, como resultante, portanto, da íntima e avulsa combinação dos seus elementos básicos. Quando penso nisto que sou, nisto que somos todos, neste Ser-para- a-morte, julgo discernir em tudo o que nos rodeia uma espécie de nexo, de global simpatia, de universal afinidade. Imagino-me a subir, sob a forma de um fumo azulado, à transparência de um céu cheio de sol. E creio que tudo se descompõe e recompõe. As moléculas materiais que me geraram como complexidade, desatam-se de mim e são devolvidas à Natureza na sua mais despojada singularidade. Admito que haja neste meu perceber muito de Darwin. Mas há também muito de S. Francisco de Assis, que em cada madrugada saudava a irmã serpente e exaltava o irmão peixe. Depois, nesse ventre misterioso e fundo da Natureza haverá de recomeçar um processo, (inteligente ou não, casual ou determinista), de parto de novos seres. Gostaria de regressar? Certamente que sim. Não me importaria de vir a ser papoula, em campo onde não pastassem cabras. Talvez possa acabar, num qualquer futuro, na jarra florida de uma camponesa. De acabar? Não. De recomeçar sob a forma de húmus, acolhido e recolhido no ventre materno de onde vim.
15 de junho de 2008
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1 comentário:
Como eu o compreendo, meu caro Amigo!
Nunca me detive nesse exercício de retorno ao ventre da Natureza, mas bastas vezes dou comigo distraído sobre a minha partida e o meu regresso. Admito, até, que já cá estive uma, duas ou mais vezes em tempos diferentes, embora, quase sempre amarrado aos mesmos destinos temporários.
Um abraço
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