17 de junho de 2008

UMA EUROPA DOENTE

A Europa perdeu-se de si mesma. É hoje um continente esgotado, envelhecido e subserviente. A Europa trocou o estimulante mundo dos seus valores primitivos – a cogitação criativa da filosofia, de matriz grega, a ponderação dos princípios de equidade, de raiz romana, a forte alegria e exteriorização vital da latinidade – por modelos de vida e de pensamento importados a partir dos Estados Unidos da América. Ao fazê-lo, vendeu a alma. Prostituiu-se. Ninguém poderá esperar hoje desta Europa, vergada a modelos tecnocráticos e a evangelhos grosseiramente utilitaristas, ninguém deverá presumir que dela fluam directrizes de pensamento, escolas estéticas, correntes literárias, propostas musicais, inovações de palco, ousadias de imagem, que foram a sua “marca de água” desde os tempos originários. Ou, se houver de tudo isto um arremedo, um esgar, uma grosseira imitação, de tudo isto se poderá dizer que é o distante clarão de um incêndio pretérito. Com que sonha hoje a média da cidadania europeia “educada”? Sonha com automóveis, com operações especulativas e com hedonismos gástricos. A Europa quer, nos dias de hoje, comer como os americanos, vestir como os americanos, auferir salários “à americana”, viver como lá. Começa-se a falar na necessidade de se equipar militarmente. É a cereja no cimo do bolo: a Europa deseja também matar tão eficaz e discricionariamente como os Estados Unidos da América ! …

1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

Meu Caro Amigo,
Não posso estar mais de acordo consigo. No entanto, julgo eu, é preciso ir um pouco mais além da constatação da realidade actual europeia e tentar descortinar a origem deste descalabro.
Não foram os Americanos que, sem mais estas nem aquelas, se nos impuseram como padrão. Não. Fomos nós, os europeus, que os “chamámos” e eles aproveitaram-se desse apelo. Fomos nós — ou alguns de nós — na ambição louca de dominar os restantes que gerámos a situação propícia à “entrada” deste modelo que nada tem a ver com as velhas tradições e glórias de uma Europa que se desdobrou sobre o mundo. Fomos nós, na sequência da Grande Guerra, em 1916, quem pediu o auxílio da força bruta dos Americanos e repetimos a dose em 1941. Se da primeira vez os EUA se recolheram ao seu recanto continental e não impuseram nada que fizesse mossa na cultura do Velho Continente, o mesmo já não aconteceu da segunda; nessa altura, com a Alemanha em escombros, a França, a Grã-Bretanha e a Itália economicamente desarticuladas era inevitável que o vazio imperial britânico fosse preenchido pela ambição da antiga colónia.
De quem foi, ao cabo e ao resto, a culpa? Desta velha Europa que se não soube colocar a recato depois da Grande Guerra e, no tratado de paz, impôs à Alemanha condições humilhantes como ela havia imposto à França em 1871. Os homens esquecem que o Poder é efémero!
Um abraço