27 de junho de 2008

PERGUNTEM A MALTHUS

Dizem as previsões demográficas que a população mundial chegará aos dez mil milhões de indivíduos no ano de 2050. E a questão coloca-se: há terra suficiente para tantos seres humanos? A esta pergunta, outras poderão juntar-se: as possibilidades de sobrevivência deste gigantesco formigueiro assegurar-se-ão com o actual sistema de partilha de riquezas? ; o capitalismo puro e duro, tal como o conhecemos, resistirá ao embate deste acréscimo de consumidores potenciais? ; e, a resistir, poderá tal sistema económico salvaguardar os fundamentos da democracia representativa e do individualismo, em que se tem estribado? ; esta imensa legião de estômagos gerará só o caos ou, por mediação dele, contribuirá para a definição de uma nova ordem internacional, nos planos económico, político-social, cultural, ético?; a dignidade do Homem e a integridade da Terra sairão incólumes deste tremendo desafio?
O crescimento da população mundial tem obedecido, desde os meados do século XVIII, às previsões sombrias de Malthus (1766-1834). Advertiu ele que a “lógica da penúria” era irreversível, caso não fossem tomadas medidas drásticas. É que, de acordo com a sua análise, o incremento dos recursos necessários à vida, sobretudo dos nutrientes, encontrava-se subordinado a um ritmo aritmético de progressão (2,4,6,8,10, etc), ao passo que a multiplicação da espécie obedeceria a um ritmo geométrico (2,4,8,16,32, etc). Por isso, Malthus aconselhava que as mulheres se decidissem a casar mais tarde, em idades menos férteis, recomendando ainda as práticas de abstenção ou de neutralização sexuais e até o recurso a fórmulas idênticas às que hoje se agrupam sob a designação de "planeamento familiar". Defendia ainda que as catástrofes naturais, as grandes epidemias e as devastações militares, longe de serem calamidades absolutas, deveriam ser vistas como “males necessários”, introduzindo correctivos moderadores nesta expansão populacional.
As previsões de Malthus foram tidas como excessivamente pessimistas ao longo do século XIX e durante a primeira metade do século XX. No entanto, a China – que irá ser a Super-Potência do futuro (se não o estiver já a ser no presente…) – adoptou sem hesitação uma parte substancial do programa de Malthus. Uma coisa temos como certa: a questão demográfica irá ser, sem receios de contradita, a mais decisiva, a mais estruturadora das realidades e a mais impositiva, no amanhã que se avizinha.

1 comentário:

Luís Alves de Fraga disse...

Caro Amigo,
O amanhã só com grande margem de erro se pode predizer, contudo, partilhando da sua opinião quanto ao crescimento económico da China, com as cautelas possíveis, permito-me sugerir que, se não surgir uma nova teoria política para se opor ao liberalismo globalizante, o mundo acabará envolvendo-se em terrível guerra com consequências jamais vistas, exactamente porque o Oriente quererá impor ao Ocidente as suas regras e os seus produtos.
Os novos “Bárbaros” “invadirão” o pretérito “império” europeu, subjugando-lhe os arremedos de “velha dama”, e levarão de rompante, à frente das “espadas nucleares”, os “valores democráticos” americanos. A “Nova Ordem” será amarela, ditada segundo os princípios do desrespeito pelos direitos humanos – os quais, na verdade, já hoje pouca reputação alcançam nos mercados da intriga internacional.
Como presciência, as minhas palavras têm, a meu ver, o valor do meu silêncio.
Um abraço